sexta-feira, 1 de abril de 2011

A sombra do baobá.


O trabalho é o que me consome...
Imaginem o quão maravilhosa seria a vida se pudéssemos tê-la somente para agradar nossos sentidos e necessidades mais primários?
Se eu ando por uma praça arborizada, e o vento fresco bate em meu rosto, eu sinto cada fio de cabelo em minha cabeça voar de acordo com o ritmo da brisa, e surge em meu peito uma paz que toma toda minha matéria somática.
Por vezes aprendo algo novo por meio de um texto escrito, ou pela simples observação de um acontecimento, e me vem a sensação de estar diante de um mundo novo.
Uma boa ação que faço ou que presencio me dá o sentimento de interação com o melhor do mundo.
O toque de uma bela mulher em meu corpo, ou a simples presença de quem amo me renova.
Uma boa refeição e o degustar de um bom vinho são fontes de um prazer raro que se sente ao realizar atividades necessárias à sobrevivência.
O simples despertar numa manhã ensolarada faz emergir de meu âmago um sentimento de gratidão por estar vivo. E eu me sinto especialmente grato em dias frios, chuvosos... A inspiração que me surge é predominante. A simples reflexão de um sonho que me ocorre me excita...
A complexa análise que faço sobre a não existência de um Deus e, ao mesmo tempo, sua presença em tudo o que me cerca - inclusive em mim - me deixa extasiado.
No entanto, o trabalho que é o recurso honesto que se tem para saciar suas necessidades básicas absorve toda a paixão que nelas reside. A vida é consumida pela monotonia do trabalho, o que era pra ser belo se torna mecânico... Não existem surpresas, presenciamos a morte do acaso e do inesperado diante de nossos olhos.
Se não há trabalho, eu mal sei que dia da semana estou; e, se a inércia me fosse permanente, eu acabaria esquecendo até a minha idade. E seria feliz, considerando admiravelmente proveitosa minha passagem pela vida... Apesar de nada ter construído no plano material, existiria uma riqueza incalculável em minha alma...
Todavia, vejo ainda atividades humanas dotadas de grande paixão que se tornam profissões; o musico por exemplo.
O pianista vive para a musica, e a musica habita seu espírito. Ele pode entrar em contato direto com Deus em seu silêncio interior... A melodia pode ser o caminho para se aproximar da Onipresença do Incriado. Entretanto, a rotina dominará seu amor, e logo lhe será tirado todo o animo de viver.
Tudo o que é planejado perde grande parte de sua emoção; tanto na alegria, quanto na tragédia.

Um comentário:

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