sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Psyche awakens the love of Eros.

Um homem sai de uma sala, tem uma chícara de café na mão. Ele se senta num sofá e olha para a janela e nota que a cidade está sempre em movimento... "A vida está sempre em rotação!" conclui ele.
Pega sua carteira e vê uma foto de sua familia; mulher e filhos. Recosta a cabeça no topo do sofá e começa a sentir cada molécula de seu físico se dissolver em pensamentos.
Uma voz adentra sua mente "O que temos hoje?".
Ele treme seu corpo com a indagação do psiquiatra. Se vê como uma prostituta que será invadida, como uma virgem a ser descoberta. Sua mente não será mais sua propriedade, seu refugio será adentrado e abreviado em um simples diagnostico, um papel.
Todavia, não há como fugir mais. A hipnose é um meio eficaz de invadir os pontos de mais obscuros de nossa psiquê. Lembrou-se que Psique era como chamava sua filha, devido à sua curiosidade em relação à todos os assuntos. Ele era formado em História e pós-graduado em filosofia e mitologia.
Viu cada vez mais de Psique em sua filha que, na adolescência não conseguia esconder sua curiosidade sobre o sexo e posteriormente apareceu grávida. Tomado pela fúria, quis o homem tomar satisfações com o pai e com sua filha; mas foi retido por qualquer vestígio de sensatez que ainda havia em sua formação cultural.
Sua esposa lhe traia. De certa forma, a traição em si era bem interpretada pelo homem que era cerca de 20 anos mais velho que sua esposa. O que lhe frustrava eram duas coisas: A mentira sustentada por tanto tempo e o amante ser 20 anos mais jovem que sua parceira. "São 40 anos a menos e uma libido 40 vezes  maior.", pensava o homem.
De repente sentiu-se tragado por uma onda de lembranças. Era jovem e vestia uma jaqueta de couro e seus cabelos escorriam pelos ombros. Se não estava enganado, era 1970 e poucos... nomes como John Lennon, Jim Morrison e Robert Plant estavam em alta e ele estava na faculdade fazendo aquilo que seus pais mais temiam: Não cursando Direito, Medicina ou qualquer outro curso que lhe enriquecesse. Sua consciência observou "O amante de sua mulher é estudante de Medicina; não é uma maravilha?".
Viu o quanto era superior naquela época e o quanto estava acabado atualmente. Sentiu-se rebaixado na vida e de mãos atadas.
Certo dia viu um de seus amigos de faculdade e percebeu que 40 anos podem mudar consideravelmente a vida de uma pessoa. Era seu parceiro no curso e (apesar de ter uma origem consideravelmente mais humilde que o paciente) dizia que estava ali por amor.
Quarenta anos depois, lá está ele: Advogado, esposa com 20 anos de idade (Era então o seu sétimo casamento que seguia esta linha, as outras esposas morreram.), carro do ano. Era difícil para aquele Historiador olhar para seu amigo e não inveja-lo, seja qual fosse o ângulo analisado. Sorria enquanto apertava a mão de seu amigo e pensava consigo mesmo "Eu queria esta vida, esta coragem... Queria ser capaz de matar minha unica esposa e sair ileso que nem você faz, internar minha filha em algum convento ou algo parecido e alegar sua insanidade mental, incapacidade de discernimento. Queria ter a juventude do amante de minha esposa e seu dinheiro... E inquestionávelmente, encaminhar este neto que está por vir para adoção. Devia fazer isso; já que ele será responsabilidade minha tanto financeiramente quanto em sua educação... Eu deveria fazer o que quisesse com esta pessoa. Agora olho para você que por vezes me fez sentir tão bem comigo mesmo por sempre estar tão abaixo de mim. Olhe só para o que sou hoje...".
O divã então foi banhado por suas lágrimas enquanto o psiquiatra despia cada peça de sua linha de pensamento.
Acaba a consulta e ele recebe o tal papel do diagnostico. Saindo da clinica ele entra no carro e abre o envelope.
Tem em suas mãos uma receita com alguns remédios e o diagnostico que estupidamente dizia o óbvio: Ele estava frustrado.
Segue rumo à seu apartamento; sobe as escadas para adiar o encontro com sua familia. Pensava incessantemente consigo "Deus; se você existisse talvez pudesse me entender.".
Quando deu por si; subira tanto as escadas que estava no topo do andar mais alto do edifício onde residia.
Chegou perto da borda daquela estrutura e não teve duvidas, precisava fazer algo por si mesmo.

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